"A liberdade jamais e dada pelo opressor, ela tem que ser conquistada pelo oprimido"

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sábado, 9 de abril de 2011

A benção minha velhinha!

Quando eu era criança muitas vezes acordava no meio da noite em pânico, levantava e ia olhar minha mãe, ficava observando e só me acalmava quando via o movimento de sua respiração. Não sei se isso acontece com outros filhos, mas freqüentemente tinha pesadelos em que ela morria, e então eu acordava chorando. Quando constatava que ela estava ali, dormindo, sã e salva, me dava um alívio, uma sensação de felicidade.
Há exatamente um mês o meu pior pesadelo tornou-se realidade. Acordei e fui verificar a respiração dela, mas não havia mais respiração. A vida deixou o seu corpo durante o sono.
Não posso me queixar da vida e nem da morte. Elas concederam-me bastante tempo para que pudesse me despedir e aproveitar ao máximo a companhia da pessoa mais importante e mais querida para mim.
A insuficiência cardíaca congestiva, doença que a levou, foi aos poucos paralisando seu coração que foi perdendo as forças. Durante seis anos conseguimos controlar os sintomas com o uso de vários medicamentos. Foram muitos sustos, idas e vindas de hospitais onde ela ficava internada até que se controlasse a crise, noites de sono em que eu ficava segurando sua mão, fazendo massagem em suas costa e dizendo que tudo ia ficar bem, assim como ela fazia comigo quando eu era criança e adoecia.
Felizmente, apesar das várias crises que teve por conta da doença, na maior parte do tempo ela estava bem, levava uma vida tranqüila.
Apesar de eu racionalizar, o meu coração dói muito. Mesmo sabendo que todos teremos de ir e que ela foi de forma tranqüila, sem sofrimento, o fato é que é muito difícil separar-se de alguém que se ama tanto.
Eu não sei, ao certo, quando foi que eu deixei se ser seu filho para ser seu pai. Os papeis se inverteram e quando me dei conta estava lhe dando comida na boca, escovando seus dentes, dando banho (perdemos a vergonha um do outro), pois nem sempre havia uma mulher em casa para fazer determinadas coisas que um filho fica com vergonha de fazer.
Essa convivência com ela foi o que ficou de mais precioso para mim, mas também é o que me causa mais dor. Lembro dela vinte e quatro horas por dia, a vejo em todo lugar, ouço a sua voz me chamando.
Quando saio para o trabalho sinto falta de pedir-lhe a benção, momento em que ela segurava a minha mão e perguntava que horas eu voltaria, se eu iria jantar no serviço, para só depois beijar a minha mão e me abençoar.
Quando chego em casa me dá um vazio, pois ela não está ali para eu beijar e abraçar.
Na hora de dormir fica a falta dela perguntando se eu havia trancado as portas, se não tinha louça na pia.
Talvez para sentir-me um pouco mais perto dela, antes de dormir, depois de abençoar o meu filho e beijar a minha mulher, eu ainda falo:
-A benção minha velhinha!
Sei que com o tempo a dor da saudade vai diminuir, mas sei também que eu nunca mais serei plenamente feliz, pois o vazio que ela deixou nunca será preenchido.
Quando planejo fazer algo que não poderia fazer quando ela estava viva, pois tinha que cuidar dela, o meu coração aperta e eu perco o animo, mais sei que a vida tem que continuar e eu tenho que pensar no meu filho.
Se eu for para o meu filho dez por cento do que a minha mãe foi para mim, tenho certeza que serei um excelente pai.



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